31.1.11

Peregrino

Sirvo à um Rei soberano e autoritário. Amoroso, sim, piedoso, com certeteza! Suas misericórdias se renovam a cada manha. Ele me ama tanto que deu o que lhe era mais precioso para que eu pudesse voltar à Casa. Acontece que, mesmo assim, meu Pai, este Rei, é autoritário. Toda a autoridade e poder pertencem à Ele. Todo o dominio, majestade, louvor, adivinhem... Ele não divide a sua glória com ninguem. Tudo pertence à ele.

Eu não sou desta Terra, não sou deste mundo. Pertenço à outra nação. Nova Jerusalém é o seu nome. Governo teocrático, sabe? Cujo sistema tem por nome “Reino de D’us”.

Em minha pátria não há nativos, apenas um, o Rei soberano, Seu Filho e um Mensageiro que é da Família. Digo apenas um, pois, é comum em minha pátria se dizer que os três são a mesma pessoa.

Todos os seus residentes (da minha pátria) são na verdade reclamados à ela. Quando dela se tornam, são considerados como crianças e tem que crescer neste sistema chamado “Reino de D’us”, esperimentando e aperfeiçoando-se no Governo. Quando atigem a maioridade, consideram-se filhos desta pátria e de lá não querem mais sair. O que é esquisito pois, quase nenhum dos seus residentes esteve de fato nela, com exceção de poucos, alguns... Mas, nós nos consideramos tão pertencentes à ela que não nos importamos (e nem nos apegamos) às fronteiras geográficas deste mundo. Por isso me considero peregrino nele. Um visitante, viajante... estou apenas de passagem, esperando o trem que logo, logo virá me buscar.

Não existe nação mais apegada à sua pátria do que os filhos da minha. Nos doamos em sangue sem que seja necessário. Reclamamos direitos que não nos foram atribuidos nas embaixadas de outros países. Trabalhamos para que a cada dia a nossa pátria creça de tal forma que fazemos isso no boca-a-boca, porta-em-porta. Pagamos tributos nas nações em que vivemos e ainda temos o PRAZER (isso!) de pagar tributos em nossa pátria tambem. Não há brasileiro, irlandês, chines ou norte-americano que possa amar a sua pátria com mais afinco do que nós.

Em minha pátria não há sexismo. Aliás, a definição de sexo, como conhecemos aqui, é completamente abolida. Nem se fala nisso... contudo, é complicado de se explicar. É como uma daquelas coisas em que voce não sabe dizer com palavras, mas, com imagens. Você só entende vivendo, vendo...


Em minha pátria não há doenças, e, o tratamento médico é puramente místico. Toma-se um gole do rio-do-trono e tá tudo certo. Ah sim, tem a árvore da vida para completar. Seus frutos são magníficos e, de quebra, é melhor do que maçã, tomate, abacaxi, erva para-tudo e romã! Tiro e queda! Cura cancer, AIDS, tuberculose... dizem até que cura idiotice, mas, em minha pátria, como disse anteriormente, só há os melhores...

Em minha pátria não há separação de dia e noite. É tudo a mesma coisa. Aliás, não é, pois, não existe a concepção de dia ou noite, pois, lá, eles não existem.

Em minha pátria somos ocupados-desocupados. Fazemos tudo o que se possa imaginar durante o dia e ainda sobra tempo para fazer o que se quer.

Em minha pátria todos amam as músicas nativas.

Em minha pátria todos amam as frutas e pratos nativos.

Em minha pátria todos amam o sistema de governo.

Em minha pátria, todos amam.

Eu sei que eu disse que nunca fui para lá. Mas, eu já sinto saudades de casa...

                                                                               @ Luiz Alfredo Noronha Perin

2 comentários:

âni disse...

que saudade de casa!

luiz alfredo disse...

E eu já sinto o trem chegar!

O barulho do apito vem de looonge, mas vem! A fumaça já contamina o céu! Ao longe, por de traz das montanhas...

Vou pra casa, cantar o Hino Nacional em devoção ao meu Rei!